Quando o Céu Abre a Janela e Resolve Espiar a Gente

Alex Padre

Um domingo de saudade, fé e risadas que atravessam o tempo

Domingo foi Dia de Finados. Aquele dia em que o mundo parece respirar mais devagar e a gente tenta lidar com o silêncio que ficou depois que o riso de quem amava foi embora.
Enquanto muitos visitavam cemitérios e levavam flores, eu preferi em casa e conversar com o vento. E foi ali, entre a madrugada e as lembranças, que senti o que essa foto traduz: o amor não morre, ele muda de endereço.

Entre o céu e o caminho, duas mulheres que viraram minha força, meu riso e meu porto seguro. Onde quer que estejam, sei que continuam sorrindo e me guiando, mesmo quando finjo que já aprendi o caminho sozinho.

Na imagem, tô eu aqui embaixo, no meu passo lento de quem ainda tenta entender o tempo, e lá em cima, no brilho do céu, estão duas das maiores mulheres da minha vida: minha mãe, Gilza "minha gordinha"  e minha bisavó Domingas, a eterna "Minga".
As duas foram embora com menos de um ano de diferença, como se tivessem combinado. A mãe foi na frente, e a bisa, que nunca confiou muito nas decisões dos outros, resolveu subir também pra garantir que ela não se perdesse no caminho.

Elas continuam sendo minha bússola espiritual.
Às vezes, quando o vento muda de direção, eu sinto as duas conversando sobre mim lá de cima.
Minha mãe dizendo “olha o Alex, ainda comendo como se fosse o último prato da vida”, e a bisa respondendo “deixa o menino, Ziza, ele tá feliz”.
Tenho certeza de que o céu é mais animado desde que elas chegaram.

Mas entre uma risada e outra, vem aquele nó na garganta.
A saudade é uma visitante fiel, aparece sem avisar, senta no sofá da memória e faz a gente chorar sem querer.
Sinto falta do cheiro de comida de mãe (mesmo que as vezes ruim pra dedeu), das broncas disfarçadas de cuidado, das tardes em que a bisa contava histórias de um tempo que parecia inventado.
Hoje, tudo isso mora dentro de mim.

Elas me ensinaram o tipo de amor que atravessa qualquer fronteira, inclusive a da vida.
E quando eu penso nelas, não imagino tristeza, imagino risada.
Porque amor de mãe e de avó é o tipo de laço que nem a morte tem coragem de cortar.

O Dia de Finados, pra mim, é isso.
Não é um dia de luto. É um dia de visita, só que do lado de dentro.
A gente fecha os olhos, lembra, agradece e sente de novo o abraço que parecia ter ficado pra trás.

Um dia, espero que a gente se reencontre.
Num lugar onde não existe relógio, onde o tempo não cansa, e onde o amor é o idioma que todo mundo entende.
Até lá, sigo por aqui, tentando honrar o que aprendi com elas: rir mesmo nos dias nublados, cuidar de quem amo e nunca perder a mania de acreditar que o céu tá sempre olhando pra gente.

E, sinceramente, acho que estão.
Porque às vezes o sol bate diferente, o vento traz um arrepio bom e o coração sussurra baixinho:
“Mãe, Bisa… eu sei. Vocês ainda tão por perto.”

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