Houve um tempo — não tão distante assim, mas que hoje parece anterior ao descobrimento do WhatsApp — em que a TV brasileira servia não só pra mostrar novela com trilha da Sandy & Junior e programa de auditório com dançarina de franja e top de lantejoula. Era palco de algo muito mais ousado: a crítica política feita com humor escrachado, direto e genial.
Casseta & Planeta era o telejornal que você ria chorando e chorava rindo. Aquilo era jornalismo de fantasia e peruca, com o compromisso ético de deixar o político pelado em horário nobre — metaforicamente falando, claro (às vezes nem tão metafórico assim…).
Nos anos 90 e começo dos 2000, era absolutamente normal ver o Fernando Henrique Cardoso dublado como criança mimada, Luiza Erundina sendo parodiada com tanto talento que até ela devia rir, e Pita virando sinônimo de caos administrativo com uma edição mais afiada que discurso de posse. Tudo isso regado a trilha debochada, figurino bizarro e um Brasil que, mesmo sendo doido, ainda sabia rir de si mesmo.
E aí veio a era do “mimimi”.
Hoje, se você falar “político ladino” num tom mais alto, já tem assessor protocolando queixa no Ministério Público e um coach te mandando mensagem dizendo “vamos conversar sobre empatia?”. A sátira virou crime hediondo. A ironia é considerada abuso psicológico. O sarcasmo? Cria trauma em rede social.
O problema, meu povo, é que enquanto a piada virou problema, a política continua uma palhaçada sem graça. O circo continua montado, mas trocaram os palhaços por gente sem roteiro, sem talento e sem limite no cartão corporativo.
O humorista, antes livre pra brincar de dizer verdades, agora precisa de parecer jurídico, aula de media training e benção de um grupo de apoio para seguir fazendo o que fazia desde que o mundo é mundo: incomodar quem está confortável e confortar quem está se ferrando.
Casseta & Planeta era o porta-voz do “tô nem aí” com propósito. Fazia a gente pensar enquanto ria, mesmo que com culpa. Era a prova viva de que dá pra jogar pedra usando purpurina. Hoje? Quem ri é o político — porque ninguém mais pode apontar o dedo. O medo de ser “cancelado” virou a nova mordaça.
Estamos vendo a crítica virar silêncio, a sátira virar retratação pública, e o humorista virar vilão por dizer aquilo que todo mundo pensa, mas só ele tem coragem de soltar.
E pra fechar — ou abrir o olho de vez —, vale lembrar que Chaplin, com toda a sua genialidade, já dizia isso antes de qualquer influencer problematizar um trocadilho:
“Se tivesse acreditado na minha brincadeira de dizer verdades, teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando.”
E eu, Alex Padre, te digo:
brincar de dizer verdades continua sendo a melhor brincadeira.
Mas só pra quem ainda tem coragem de brincar.
